Por Calebe Ribeiro
O Facebook está virando um divã. Não precisa ser
especialista para fazer essa constatação. Diariamente recebo no meu feed
de notícias desabafos profundos sobre a vida privada de algumas pessoas. Até aí
tudo bem, isso apenas segue a tendência exibicionista do ser humano, acentuada
ainda mais nos brasileiros. Temos uma necessidade de exibir nossos corpos,
nossos bens, nossas vitórias e, agora com as mídias sociais, além de exibirmos
os nossos animais domésticos, comidas e lugares favoritos, podemos também
exibir parte das nossas almas.
Comece a observar os posts em sua timeline.
Tente olhar por detrás das afirmações e você perceberá muitas vezes, frases
carregadas de sentimentos profundos e dos mais diversos, do amor ao ódio, da
amizade à inimizade, da simpatia à antipatia. Parece que o fato da exposição
ser virtual e não real, gera uma coragem para revelar o que talvez não seria
revelado face a face.
Nesse divã virtual é possível verificar todo o
tipo de sentimento e sensações: posts com tendências suicidas, frases
altamente preconceituosas, posições profundamente facciosas, declarações
narcisistas, desabafos profundamente coléricos e raivosos, avaliações
autodestrutivas… enfim, a lista vai longe.
Tem muita coisa boa no Facebook, mas o objetivo
desse texto é revelar esse outro lado preocupante que é a transformação de uma
ferramenta de entretenimento e comunicação social em um canal de desabafos e
exposição da vida privada.
Esse movimento evidencia uma necessidade humana
de compartilhar suas angústias e anseios, e como hoje vivemos em dias cada vez
mais individualistas, sofremos a falta de ombros para chorar e ouvidos para
ouvir os nossos desabafos. Quando o desespero bate, recorremos ao escape mais
próximo e é nessa hora que confundimos uma ferramenta de comunicação social com
uma sessão de terapia para expor aquilo que nos aflige.
O falecido Rubem Alves já dizia: “Todo mundo,
quer fazer curso de oratória, mas ninguém quer fazer curso de escutatória”.
Falta gente pra ouvir; é por isso que falamos muito para aqueles (ou aquilo)
que tem ouvidos, mas não ouve.
Parafraseando o mestre, podemos dizer que o
Facebook e outras mídias sociais postam “do que está cheio o coração”. Dando
uma olhada rápida no feed de notícias, receio que estamos mal de coração
e, principalmente, órfãos de ouvidos amigos.
***
• Calebe Ribeiro é
um dos pastores de jovens da Igreja Presbiteriana do Recreio, no Rio de Janeiro (RJ). É
também missionário da Missão Jovens da Verdade.
Fonte: Ultimato Jovem